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DEVOCIONAL BAM BRASIL - NÉGOCIOS COMO MISSÃO EM NEEMIAS

.1 Conectando-se a uma nova Mentalidade

Neemias era copeiro de Artaxerxes, imperador persa, quando recebeu notícias
desoladoras a respeito de habitantes de Judá e do estado caótico de Jerusalém
por causa das sucessivas invasões e saques que ocorreram desde 598 a. C., na
primeira deportação para o exílio babilônico.

Ao receber a visita de um de seus irmãos, Neemias procurou se inteirar a respeito
de como estavam os que recentemente haviam regressado para Judá, e as
notícias que recebeu lhe causou tristeza profunda ao coração.
“Quando ouvi isso, sentei-me e chorei. Durante alguns dias, lamentei, jejuei e orei
ao Deus dos céus”. Neemias 1:4(NVT)

O efeito desolador das notícias, contudo, não foi o fim. Pelo contrário, tem
exatamente aí o ponto de partida de uma incrível história narrada ao longo do livro
de Neemias, sobre um tempo de reconstrução, sobretudo, de pessoas e suas
histórias, famílias, fé, cultura e identidade.

Mas, o que isso tudo tem a ver com os nossos dias e com Business As Mission?
Sem forçar o texto bíblico e sob a luz da Palavra que o inspirou, vou mostrar como
essa história se conecta com o cenário atual e os princípios que ela nos provê
para orientar os nossos negócios tanto em dias de crise quanto em dias de
estabilidade.

Vou mostrar, também, que uma empresa BAM se estende para além dos muros
dos interesses próprios e que a jornada de todo BAMer começa no coração.
Em uma série de devocionais, distribuídos semanalmente em textos objetivos,
com perguntas para reflexão e aplicação, quero encorajar você a se tornar um
empreendedor fiel à aliança com Deus, perseverante em tempos de crise,
comprometido com a reconstrução de cenários desolados e que vê sua missão
como parte de um propósito maior.

 

2 – O risco envolvido

Ao observar a jornada de Neemias na reconstrução de Jerusalém, a primeira
pergunta que devemos fazer é: em que aspecto o contexto de desolação dos
habitantes de Judá se assemelha aos dias atuais? Os impactos da pandemia nos
negócios, principalmente os de pequeno e médio porte, sintetiza bem a resposta.

Em abril, uma pesquisa do SEBRAE já mostrava que 58,9% das pequenas
empresas do Brasil pararam de funcionar temporariamente. Número que
provavelmente aumentou de lá para cá, sem falar na possibilidade de grande parte
desses negócios não voltarem a funcionar no fim da pandemia. Não preciso dizer
o quão longe podem ir os desdobramentos dessa condição.

Sim, é um cenário desolador. Isso porque também entram na conta os impactos
sociais que derivam dos econômicos. E, independentemente da intensidade que
tenha chegado a você, é certo que vivemos uma crise da qual não arriscamos
apontar uma data para acabar.

A reação de Neemias ao cenário caótico de Jerusalém, no entanto, é inspiradora.
Depois de um intenso momento de lamentação e oração, o que já salta aos olhos
é sua disposição em se envolver com a causa, a despeito de sua boa condição
como copeiro do rei.

“Fiquei com muito medo, mas respondi… Se lhe parecer bem, peço que me envie
a Judá para reconstruir…” – Neemias 2.2-5 (NVT)

Não só o relativo conforto do palácio estava em jogo, mas também sua vida, uma
vez que bastasse o rei interpretar como traição seu desejo de reedificar
Jerusalém, para ordenar imediatamente a sua morte. Contudo, Deus foi com ele e
o rei foi favorável a seu pedido.


Perguntas para reflexão:

1) Como tenho reagido ao cenário de crise que se instalou no Brasil, como
consequência da pandemia?

2) O quanto estou disposto(a), sob a orientação de Deus, a me envolver na
reconstrução do cenário socioeconômico da minha cidade?

Link da pesquisa: https://bit.ly/SEBRAE-pesquisa

 

.3 – Planejamento começa no coração

“Não havia contado a ninguém os planos para Jerusalém que Deus tinha colocado
em meu coração.” – Neemias 2.12 (NVT)

O coração é o centro existencial do homem. Nele estão “as fontes da vida”:
motivações, intenções, vontades, decisões, moralidade, enfim, tudo que compõe
a centralidade da pessoa humana. É verdade que ele é enganoso,
irremediavelmente. Mas Deus, de quem procede a verdade, é quem prepara
caminhos retos para o coração.

Neemias, antes de selar o cavalo para partir rumo à Jerusalém, já havia começado
a jornada dentro do próprio coração. Algo que constatamos ao perceber sua
compaixão quanto aos habitantes da desolada província de Judá e sua disposição
em assumir responsabilidades na causa.

Destaca-se também, dentre outras coisas, a postura correta de Neemias em
cuidar de ter todas as autorizações do rei para executar o grande projeto com a
devida legalidade.

Não é novidade para nós que Neemias é um grande exemplo de planejamento e
execução de projeto. Mas, desviando os olhos do óbvio e explorando um pouco
mais a fundo, quero provocar uma honesta reflexão: em nossos planejamentos,
incluímos nossa responsabilidade tributária, ou o cuidado sobre procedência dos
produtos e serviços que contratamos, os deveres quanto aos direitos trabalhistas
assegurados pela legislação brasileira aos nossos colaboradores, ou a
regularidade do funcionamento de nossos estabelecimentos?

Os mais experientes irão dizer que é impossível não considerar tais questões,
devido ao cerco que os órgãos fiscalizadores conseguem fazer atualmente, para
garantir que essas responsabilidades sejam devidamente cumpridas. Mas o ponto
é: cuidamos dessas questões por temermos as sanções das autoridades ou por
considerarmos justo cumprir tais atribuições?

É bem verdade que nossos negócios são frutos de planos que Deus colocou em
nossos corações. Mas, para percorremos essa longa jornada, é preciso trilhar por
caminhos retos.


Perguntas para reflexão:

1) Existem pontos de irregularidades que preciso resolver em meu negócio?

2) Qual ponto de irregularidade posso começar a resolver?

 

.4 – O exemplo precede o engajamento

“As pessoas não seguem o líder, elas seguem a visão dele”.


A frase de Myles Munroe é verdadeira, mas incompleta. Respeitosamente,
acrescento o fato de que o exemplo do líder é imprescindível para conectar sua
visão aos que ele pretende mobilizar.

Neemias guardou os planos em seu coração durante todo o período em que
percorreu as muralhas e portas da cidade, para analisar os estragos e perceber as
reais circunstâncias que estava para encarar.

Em seguida, chamou os líderes judeus e, contando como Deus lhe fora favorável
diante do rei Artaxerxes, que não só consentiu com a reconstrução, mas também
concedeu recursos para a restauração das portas da cidade, os encorajou a iniciar
a obra.

Toda visão tem um potencial mobilizador, mas esse potencial deixa de ser
hipótese para se tornar realidade quando a visão corresponde à narrativa
daqueles a que pretendemos mobilizar. Isto se aplica tanto a uma narrativa
descolada da realidade quanto a uma que possua, no chão sólido da verdade, o
fundamento. É justamente aí que se justifica o fato de o exemplo do líder ser um
fator indispensável no processo de engajamento de seus liderados.

Neemias não contou a ninguém sobre seus planos, até que estivesse totalmente
imerso na realidade dos habitantes de Judá. E quando o fez, o testemunho do
grande risco que correu para estar ali demonstrou seu comprometimento com a
causa. Seu exemplo foi fundamental para trazer ânimo a homens que, há muito
tempo, viviam em estado de desolação e vergonha.


Perguntas para reflexão:

1) Tenho uma visão clara a respeito do meu negócio?

2) Em que aspectos identifico a influência do meu exemplo aos meus
colaboradores, clientes, fornecedores e parceiros, engajando-os na visão do meu
negócio?

 

.5 – Se não o todo, a minha parte

No terceiro capítulo de Neemias, encontramos princípios que passariam
despercebidos aos olhos de qualquer leitor apressado. Mas, nesta série de
devocionais, não poderia deixar de tratar de alguns que são encontrados em uma
leitura mais atenciosa. Por isso, selecionei dois que me chamaram a atenção.

Como já vimos até aqui, Jerusalém estava desolada, sua reconstrução
demandava de bastante mão de obra. E foi na dura realidade do grande trabalho
que havia pela frente, que o coração daqueles que se comprometeram com a
reconstrução foi posto à prova.

Os trechos da obra foram distribuídos de acordo com a localização das famílias e
a disponibilidade de recursos que possuíam. Algumas, por serem pequenas e de
poucas posses, construíram o perímetro à frente de sua casa. E é aqui que se
destaca o primeiro princípio, o de cada um fazer sua parte quando não se pode
fazer o todo.

Este princípio é aplicável em nosso contexto quando consideramos a nossa
relação com a cidade (local) onde fazemos negócios. Em outras palavras, o
princípio se aplica ao impacto que os nossos empreendimentos têm na realidade
onde estão inseridos. A pergunta, então, é se nossos negócios, pequenos ou
grandes, impactam positivamente a localidade onde estão inseridos. É bem verdade que nenhuma empresa, por maior que seja, é suficiente para suprir as demandas da cidade, mas quando compreendemos o todo e identificamos a parte que nos cabe, conseguimos aplicar intencionalidade no impacto que queremos causar na realidade local que nos cerca.

Até aqui, falei apenas de um dos princípios que selecionei no capítulo 3 de
Neemias. O segundo, abordarei no próximo devocional.


Perguntas para reflexão:
1) O meu negócio gera impacto significativo na cidade?

2) Como posso aplicar o princípio mencionado neste devocional em meu negócio,
considerando os 4 pilares BAM?

 

.6 – Não só por mim, mas pelos outros também

“Malquias, um dos ourives, consertou o muro até as casas para os servidores do
templo e para os negociantes…” – Neemias 3.31a(NVT)

Para quem é o fruto do nosso trabalho e os recursos que obtemos com os nossos
negócios? Uma resposta desprovida da pretensão de parecer moralmente correto,
teria um teor semelhante a: – “Para mim e para minha família”. E não há nada de
errado com isso. Afinal, é para o nosso bem e daqueles que amamos, que Deus
nos dá tanto os bens como a capacidade de obtê-los por meio do trabalho.

Mas, em tempos de crise, o senso de auto proteção se aguça. Não faltam ditados
populares para expressar esse fato. E o que vemos no trecho acima é
surpreendente, um negociante trabalhando para o bem de homens cujo ofício não
lhes garantia salário, e também, necessidades de outros negociantes que,
provavelmente, não possuíam condições de contribuir sozinhos na reconstrução.

Trabalhar para o bem de outros não se trata de mera decisão moral de quem
almeja uma espécie de puritanismo empreendedor, nem deve servir para
desencargo de consciência. Tampouco deve ser tratado com romantismo.
Malquias fez o que fez porque entendia que seus recursos serviam a um propósito
maior que os seus negócios.

A decisão de fazer dos nossos negócios um empreendimento abençoador parte
do entendimento de que eles não existem para satisfação pessoal, eles existem
porque fazem parte de um propósito maior, e podem ter um impacto muito mais
abrangente e profundo do que imaginamos.

Se anteriormente concluímos que, se não podemos atender o todo, é efetivo fazer
nossa parte, hoje vimos que nossos negócios se tornam maiores quando sua
finalidade estende-se de maneira abençoadora a pessoas que não,
necessariamente, estão no raio de nossos interesses pessoais.


Perguntas para reflexão:
1) Para quem são os recursos que obtenho com meu negócio?

2) Como posso estender meus negócios de maneira abençoadora para fora do
raio de meus interesses pessoais?

 

7. Oração e diligência

O que é melhor, orar ou agir? A vida de Neemias revela que, embora sejam ações
diferentes, são igualmente importantes e complementares entre si. Toda a
narrativa do livro é intercalada entre ações e orações, mas um versículo expressa
bem o que quero tratar aqui:

“Mas nós oramos a nosso Deus e colocamos guardas na cidade de dia e de noite
para nos proteger.” – Neemias 4.9(NVT)

A primeira coisa a fazer é nos despir do dualismo, que consiste em polarizar
dualidades genuínas em um conflito inexistente. É verdade que ‘luz’ e ‘trevas’
existem e que, na maioria das vezes, a utilidade da primeira é mais desejável que
a da segunda.

O dualismo, nesse caso, tende a atribuir moralidade positiva e negativa a coisas
que são moralmente neutras. É verdade que percebemos essas atribuições nas
Escrituras. Contudo, não passam de figuras de linguagem, e não de atribuição
valorativa em si, uma vez que ambas relacionadas, ora a manifestações divinas,
ora a aparências do diabo.

Mas o que dualismo tem a ver com orar e ação? Muito, pois não é raro
colocarmos uma em oposição à outra, como se assim fossem originalmente.
Ignoramos que orar é uma ação e que nossas demais ações devem ser orientadas
pelo que desenvolvemos na oração diariamente. Diligência, talvez, seja a palavra
adequada para sintetizá-las e nos ajudar a dissolver a dicotomia, pois significa
fazer o necessário para assegurar o cumprimento de determinada tarefa.

No cenário do empreendedorismo atual, onde se preza por ação e nem se fala em
oração, não é necessário que o cristão force a palavra no vocabulário, como se
ela fosse mágica. No entanto, é indispensável que suas ações sejam fruto das
orações feitas no lugar secreto das recompensas, que Deus reservou para aqueles
que são chamados segundo o Seu propósito.

É possível ser diligente e ao mesmo tempo piedoso.


Perguntas para reflexão:

1) Consigo identificar, no meu cotidiano, o dualismo que coloca oração e ação em
polos opostos?

2) Qual impacto minha prática de oração provoca em meu negócio?

 

.8 Negócios também são cultura

O Livro de Neemias é o relato da reconstrução de uma cidade, sobretudo de seu
povo. Após 12 anos como governador na Judeia, Neemias e os habitantes de
Judá realizaram reformas que deixaram nítido que o resultado dessa grande obra
foi muito mais que as muralhas erguidas milagrosamente. Foi uma verdadeira
reconstrução social, um resgate da cultura e investimento em pessoas, mais do
que em estruturas.

Isso me faz pensar em como nossos negócios se relacionam com a cidade, visto
que ela foi feita para os seus cidadãos e não para as grandes construções e
realizações. Em outras palavras, a cidade deve ser um lugar de desenvolvimento
de pessoas e comunidades, não de projetos cujos escopos valorizam estruturas
em detrimento de pessoas.

Gerar, promover, resgatar e sustentar a cultura é um dos mais significativos
impactos que uma empresa pode causar na sociedade. Inclusive, quanto mais
uma marca “conversa” com a cultura do público, mais ela terá sucesso em se
perpetuar no mercado. Há aquelas que emplacam novos hábitos que,
posteriormente, se tornam parte da cultura. Basta que as marcas de fast-food, por
exemplo, deixarem de existir, e a ida ao shopping na correria cotidiana de uma
capital pode perder o sentido para os apressados da hora do almoço.

Talvez desconheçamos o potencial que nossos negócios têm, de gerar e
influenciar a cultura local, mas a verdade é que ela é um resultado inevitável em
qualquer lugar que haja humanos convivendo, se expressando, negociando, se
desenvolvendo. Deste modo, produzir cultura não é exclusivo à esfera artística.
Surpreendentemente, tem muito mais a ver com negócios que com arte. Basta
pensar nos impactos socioculturais e ambientais da Revolução Industrial, que
perduram até hoje.

É disso que se trata a proposta BAM, que através dos 4 Pilares resgata a
responsabilidade do mandato cultural e orienta os nossos negócios no
cumprimento da Missão de Deus, de restaurar todas as coisas. E isto faremos se
o Senhor nos ajudar e se nos envolvermos genuinamente com a cidade.


Perguntas para reflexão:

1) Que tipo de influência o meu negócio tem gerado na cultura local?

2) Quais ações posso tomar para provocar um impacto positivo na cultura do local
onde estou atuando?